Em todo o mundo, cerca de 600 milhões de pessoas dependem, direta ou indiretamente da pesca e da aquicultura para sobreviver. Além da pressão exercida pelas atividades humanas, como sobrepesca, degradação de habitat e poluição, tanto a pesca quanto os ecossistemas estão expostos a ameaças relacionadas às mudanças climáticas. É sabido que as mudanças climáticas fazem parte da história geológica da Terra, mas o que tem gerado preocupações é o fenômeno de rápido aquecimento da atmosfera observado nos últimos 150 anos e que vem se intensificando especialmente nas últimas décadas e, é atribuído ao aumento na concentração atmosférica dos gases do efeito estufa, principalmente o gás carbônico originado das atividades humanas.
O principal efeito das mudanças climáticas para a zona costeira como um todo é o aumento do nível médio relativo do mar. Além disso as mudanças climáticas podem acarretar uma série de outros impactos, como a intensificação de tempestades e ressacas, alterações na precipitação e aporte de água doce, aumento na intrusão de água salgada nos solos e aquíferos costeiros, acidificação dos oceanos, e mudanças profundas na força, direção e comportamento das correntes marinhas.
Os potenciais efeitos das mudanças climáticas sobre a pesca podem ser divididos entre aqueles que afetarão a atividade pesqueira em si e aqueles que afetarão as dinâmicas biológicas e ecológicas dos recursos pesqueiros. No primeiro grupo a elevação do nível do mar e o aumento na frequência e intensidade das tempestades se destacam, principalmente para a pesca artesanal, pois as condições climáticas são um fator limitante da atividade pesqueira. No caso dos recursos pesqueiros, os principais efeitos biológicos esperados referem-se a alterações nos períodos de reprodução ou migração das espécies; aumento de enfermidades; alteração nos padrões de distribuição latitudinal e de profundidade; alterações no tamanho das populações e na composição das comunidades; e alterações em relações inter e intraespecíficas, como a competição e a predação.
Os efeitos previstos das mudanças climáticas sobre a pesca serão maiores do que em outros períodos da história geológica, porque se somarão aos efeitos das atividades humanas. A somatória desses efeitos põe em risco a sobrevivência de milhões de pessoas nos países, principalmente nos países em desenvolvimento. A gestão pesqueira já deve incluir nas suas ações atuais os potenciais efeitos das mudanças climáticas, pois sem isso podem não ter a capacidade de proteger espécies e ambientes que estarão mudando rapidamente ou ainda podem estar potencialmente gerando ainda mais efeitos negativos no futuro….