Esse ano o pesquisador Guilherme Longo está desenvolvendo o projeto “De olho nos corais”, que conta com financiamento do Instituto Serrapilheira e tem como objetivo desvendar os impactos das mudanças globais sobre os recifes brasileiros. Esse projeto possui várias frentes de pesquisa e uma delas é a ciência cidadã em que cidadãos comuns participam da coleta de dados científicos. Guilherme conversou com a iGUi ecologia sobre esse projeto.
- Qual a importância dos corais?
A principal importância dos corais é dar a estrutura e complexidade para os ambientes recifais, vários peixes dependem dessa complexidade e sem essa estrutura eles são prejudicados. Além disso existe a importância para o turismo, como são áreas bonitas e coloridas milhões de turistas são atraídos para áreas recifais todos os anos no mundo todo. Os recifes onde os corais habitam agregam uma diversidade bastante alta que possui um grande potencial farmacológico. Existem muitas substâncias químicas utilizadas pela indústria farmacêutica e de produtos de beleza provenientes de organismos recifais. Por fim os recifes funcionam como barreira física à ação intensa de ondas, regulação de microclima, fixação de carbono e produção de oxigênio.
- Quais são as principais ameaças aos corais?
Os corais estão sofrendo múltiplas ameaças, em diferentes escalas. Em escala local as ameaças são poluição, que pode inclusive levar doenças para os corais, sedimentação, turismo desordenado, onde as pessoas acabam pisando e destruindo os corais, sobrepesca, por que a pesca retira organismos que ajudam a manter os corais (por exemplo peixes herbívoros que comem as algas, sem os peixes as algas podem crescer sobre os corais). As ameaças globais são principalmente aumento de temperatura e acidificação dos oceanos. As atividades humanas estão emitindo muito carbono e esse carbono deixa a Terra mais quente e quando a temperatura aumenta o coral fica estressado e mais suscetível a doenças. O principal sintoma de estresse é o branqueamento, que pode ser seguindo de recuperação ou morte do coral. O carbono emitido é absorvido pela água do mar e quando é dissolvido muda o pH da água deixando mais ácido, o esqueleto do coral é de carbonato de cálcio um elemento com pH muito básico, em um ambiente muito ácido o carbonato de calcio não consegue se formar e se dissolve, prejudicando o crescimento dos corais.
- Você acredita que é possível reverter a situação atual?
Acredito que sim, seria muito triste não acreditar. Reverter totalmente a situação atual dos corais e voltar a ser como era há 50 anos pode ser utópico, mas acredito que seja possível melhorar a situação e permitir que os corais continuem existindo para as próximas gerações. Algumas ameaças como poluição, turismo desordenado e pesca são menos complicadas de resolver por que exigem ações locais, as ameaças globais devem somar esforços do mundo inteiro para reduzir a emissão de carbono e isso deve ser feito em algum momento porque acaba afetando não só os corais mas também as florestas, entre outros ecossistemas. Tudo está, de certa forma, conectado.
- Você está desenvolvendo um projeto para estudar os impactos nos corais. Fale um pouco sobre o projeto e quais os maiores desafios em desenvolvê-lo.
Nós sabemos bastante sobre os impactos globais que afetam os recifes em todo o planeta, mas sabemos muito pouco sobre o que acontece nos recifes do Brasil. Os corais no Brasil lidam com certas condições como muita sedimentação na água, o que potencialmente pode ter selecionado espécies de corais um pouco mais resistentes já que apenas algumas conseguem sobreviver nessas condições. Como resultado, temos temos menos corais no Brasil que no Caribe. Essas condições podem tornar a resposta dos nossos corais um pouco diferentes da dos corais de outros locais do mundo. Sem estudos aqui não sabemos como os impactos globais estão afetando os corais e recifes brasileiros.
O projeto atua em várias frentes e tem algumas perguntas que queremos responder, uma delas é: será que o nosso coral é mais resistente que os de outros locais?O grande problema é que não temos dados antigos, não temos referência do que é um recife saudável no Brasil, estamos tentando resgatar isso historicamente. Por outro lado vamos tentar prever, com dados que temos hoje, como vai ser o futuro dos corais, e como as interações ecológicas podem se reorganizar no futuro, por exemplo.
Quando começamos a desenvolver esse projeto nós percebemos que o brasileiro não consegue ver o que está acontecendo no nosso mar, as informações que chegam até nós são sempre do que está acontecendo em outros países, então essa passou a ser outra preocupação: informar as pessoas. Nós vimos a necessidade de gerar um canal de divulgação científica. Outra ideia é engajar as pessoas para gerar conhecimento por que, nesse momento tem um monte de pessoas mergulhando em algum lugar vendo um coral embaixo da água, então podemos trazer essas pessoas para fazer o monitoramento, a chamada ciência cidadã.
- Quais são as metas futuras para o seu projeto?
Ampliar e fortalecer os esforços de divulgação científica e ciência cidadã. Construir uma estrutura de mesocosmos na Universidade para fazer experimentações e ver como os corais reagem a mudanças de temperatura e acidez por exemplo. A idéia também é abrir essa estrutura para que outros pesquisadores possam usar também. Por fim gostaria de expandir o projeto para outras espécies.
- Como cada um de nós pode contribuir para a saúde dos corais?
O projeto utiliza uma ferramenta chamada ciência-cidadã, todo mundo que frequenta a praia, mergulha e tem um smartphone dentro de um saquinho estanque ou uma máquina fotográfica à prova d’água, pode tirar a fotografia de um coral e postar na rede social e usar a #deolhonoscorais, indicando o local onde a fotografia foi tirada e a data. Já tem bastante gente contribuindo com o projeto através das redes sociais. Pra você ter uma ideia, temos cientistas-cidadãos espalhados em 10 estados do Brasil desde o Rio Grande do Norte até Santa Catarina, e que registraram 13 espécies diferentes, incluindo episódios de branqueamento e até espécies exóticas invasoras. A contribuição de cada um é super valiosa por que um pesquisador sozinho não consegue ter um alcance tão grande quanto o de várias pessoas participando, aumentando o escopo espacial e temporal das análises. Entrem nas redes sociais do projeto e participem!
Instagram #DeOlhoNosCorais: https://www.instagram.com/deolhonoscorais/
Facebook #DeOlhoNosCorais: https://www.facebook.com/DeOlhoNosCorais1
Twitter #DeOlhoNosCorais: https://twitter.com/DeOlhoNosCorais @DeOlhoNosCorais
O pesquisador Guilherme Longo possui doutorado em Ecologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2011- 2015) e fez Pós-doutorado no Georgia Institute of Technology nos Estados Unidos (2015-2016). Atualmente é professor adjunto no Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde desenvolve atividades de pesquisa em ecologia marinha ( https://longolab.weebly.com/ ).