Você já comeu carne de tubarão? Não? Ok, mas e carne de cação?
Pode ser que você não saiba, mas se você comeu cação então você comeu tubarão… Segundo pesquisadores brasileiros (DOI: 10.1126/science.abj9634 ), sete em cada 10 brasileiros (69%) “não sabem que carne de cação é de tubarão”.
Mas, se eu perguntar se você já tomou “sopa de barbatana” (ou melhor nadadeira), você vai dizer “NUNCA”. Isso vem devido à realização de um grande esforço mundial para proteger as populações dos tubarões. Mas aposto com você que se eu te contar que a carne que você come do tubarão vem da importação de países como a China, Uruguai e a Espanha que fazem o comércio de nadadeiras, você não vai acreditar!
Essas informações deveriam constar nas embalagens, mas não estão! Não sabemos a procedência destes animais. A rotulagem no Brasil, somente é necessária se o peixe importado for da família Salmonidae (que inclui salmão e truta) ou o Família Gadidae (que inclui o bacalhau). A carne de tubarão, ao invés de ser descrita no rótulo, é apresentado como carcaças não identificáveis!!
Com isso estamos contribuindo para o declínio das espécies mais vulneráveis de tubarões, que já sofrem drásticas reduções em sua população. No Brasil, mais uma vez, precisamos de políticas públicas mais eficazes e urgentes, sendo o primeiro passo divulgar que cação é tubarão!! E, como obrigação e direito do cidadão, devemos saber o que estamos consumindo.
Outro ponto muito preocupante é que os tubarões são predadores considerados de topo da cadeia alimentar, e logo são mais susceptíveis a acumular mais componentes tóxicos em seu organismo devido a bioacumulação/biomagnificação ao longo desta cadeia alimentar.
Por experiência própria, sendo uma das co-autoras de um trabalho publicado em 2014, conseguimos constatar a ocorrência de altas concentrações de poluentes orgânicos persistentes (conhecidos como POPs) em uma espécie de tubarão no litoral brasileiro, como o cação-frango (Rhizoprionodon lalandii), este artigo já se encontra publicado e pode ser visto em https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2014.05.032.
Acho que depois de ler esse texto você vai pensar duas vezes antes de consumir carne de cação, não?