A caça de baleias em grande escala no Brasil começou depois da chegada dos portugueses, em 1602, data que foi expedida a primeira licença para caçar baleias no país. A primeira armação (instalação baleeira) foi montada em Itaparica, Salvador e depois várias armações foram sendo instaladas na Bahia e em outros estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Paraíba. Nos 2 séculos seguintes as baleias, principalmente as baleias – francas, foram exploradas sem nenhum tipo de controle, estima-se que no início, a média de baleias capturadas era de 3 ou 4 mil por ano e os principais alvos eram as fêmeas com filhotes. Dizimando as fêmeas adultas em idade reprodutiva e seus filhotes o resultado não poderia ser outro, em 1786 as capturas anuais caíram para mil baleias e foi declinando até que em 1819 apenas 59 baleias foram caçadas. Ao longo do tempo foram mudando as espécies capturadas, quando não era mais lucrativo explorar uma espécie eles passavam a caçar outra e assim sucessivamente.
Praticamente tudo na baleia era aproveitado, a gordura era derretida para fazer óleo que era utilizado principalmente na iluminação de casas, ruas e engenhos, o óleo era utilizado no Brasil e também exportado. As barbatanas (que não são nadadeiras e sim placas dérmicas semelhantes à uma vassoura, na maxila das baleias, com a função de filtrar o alimento que existe na água) eram exportadas para a Europa e utilizada em vários objetos: guarda-chuvas, escovas, espartilhos etc. A carne não era muito apreciada, em um primeiro momento era distribuída entre os escravos, os trabalhadores livres e as pessoas mais pobres, até houve uma tentativa para popularizar o consumo dessa carne, mas não teve êxito, então passou a ser exportada para o Japão.
No início a caça de baleias era feita em navios pequenos a remo e a vela e até o arpão usado para matar as baleias era lançado manualmente. Somente em 1911 as novas tecnologias norueguesas, arpão explosivo e baleeiros grandes movidos a vapor, chegaram ao Brasil. Impulsionando a indústria baleeira e explorando ainda mais um recurso já quase esgotado. Além disso em 1912 o governo brasileiro ofereceu concessões significativas visando a revitalização da indústria baleeira atraindo capital e tecnologia estrangeira mudando a história moderna na caça de baleias. Com isso outras espécies passaram a ser exploradas, principalmente a baleia jubarte e ocasionalmente baleia minke, franca e cachalote.
Não existia nenhuma regulação sequer para a caça de baleias no Brasil, até que em 1923 um decreto geral sobre a pesca foi aprovado, mas a única regulação sobre a caça foi a proibição da captura de filhotes e as fêmeas acompanhadas de filhotes, a maioria dos artigos desse decreto tratava de práticas nos barcos e na partilha do produto. Apenas em 1967 o Brasil começou a colaborar efetivamente em decretos internacionais de proibição de caça de baleias, nesse ano especificamente foi proibido a captura da baleia-azul em águas brasileiras, mas ainda foram necessários mais 19 anos de muita briga e pressão de grupos ambientalistas e da mídia para que finalmente em 1986 a caça de baleias fosse proibida no Brasil. Ainda hoje em dia existem países que caçam as baleias, como: o Japão e a Noruega.
Excelente, seu texto. Parabéns. Talvez meu livro (co-autoria com o historiador marítimo Ian Hart) seja interessante. ‘A história da caça de baleias no Brasil’. Foi lançado em português pela DISAL Editora em São Paulo (2015) e recentemente numa edição em inglês na Inglaterra (Edit. Pequena). William Edmundson.