Carla Sássi, médica veterinária, Bacharel em direito e vereadora em Conselheiro Lafaiete, MG. Responsável técnica pela Associação Lafaietense de Proteção aos Animais (ALPA).
Quem vê a foto ao lado não imagina que essa incrível mulher faz de tudo para os animais e o seu bem-estar, as aparências enganam, e como! Carla esteve a frente dos resgates de animais em tragédias naturais e tragédias anunciadas como de Mariana e Brumadinho em Minas Gerais. Como ela mesmo diz em seu perfil nas redes sociais “Geralmente minha “Casca” não é assim, como nessa foto, ando com pêlos na roupa, cabelo desarrumado, botina suja, cheiro de bicho…e amo ser assim. Nossa aparência pode mudar a cada dia…mas a essência permanece… ahhh, essa não muda…”
Ela cedeu um tempinho na agenda e respondeu algumas perguntas para a iGUi Ecologia, uma pessoa de caráter incrível. Se dedica ao extremo pelos animais… Ficamos muito orgulhosos de seu trabalho!
Como surgiu a equipe de emergência na qual você faz parte?
A equipe surgiu na tragédia de Nova Friburgo, para ajudar no resgate dos animais e acabamos ficando dois meses atuando. Sendo mais de 200 animais resgatados, entre cães, gatos, coelhos e chinchilas. Tudo aconteceu quando acordei dia 11 de janeiro e vi na televisão a imagem de uma mulher sendo suspensa por uma corda com o cachorro nos braços, mas o cachorro foi levado na correnteza. Reuni uns amigos e nos dirigimos para lá, sem saber o que iriamos encontrar!
Quando você chegou em Mariana você tinha alguma ideia das vivências que você teria? Você estava preparada, tanto com materiais específicos quanto emocionalmente?
Como já tínhamos vivenciado em outras tragédias, como: no Acre em Minas, alguns incêndios florestais. Em Mariana o que diferenciou é que não foi uma tragédia ambiental e sim uma tragédia anunciada, infelizmente. Quando nos deslocamos levamos todos os materiais necessários e ficamos por lá 2 meses até a SAMARCO assumir e contratar equipes. Foi um impacto principalmente ambiental, perdemos vidas humanas…. vivenciamos momentos diferentes das tragédias naturais.
O que mudou com o desastre de Brumadinho?
Vamos vivenciando situações e nos deparamos com a dura realidade das pessoas atingidas, pois passam a ser vistas como números assim como os animais. Então fica a pergunta, quando eles vão deixar de ser números? E cadê os responsáveis? Em Brumadinho tivemos que ter mais cautela, mais paciência, mais discernimento para saber atuar na hora certa dos resgates, trabalhar em conjunto com os bombeiros. A questão de trabalho em equipe prevaleceu, foi um grande aprendizado com os bombeiros.
Você poderia nos relatar como era o seu dia-a-dia no resgate dos animais? Qual foi a situação mais marcante que você vivenciou?
O dia-a-dia era muito corrido, começava muito cedo sem hora para acabar. A equipe estava divida em campo e na base para conseguirmos atender o maior número de animais. Mas uma situação que ficou marcada foi quando eu e o Arthur (também veterinário) fomos em uma propriedade de helicóptero, e me passaram o contato do proprietário para reportar para ele a contabilidade das aves. Quando achamos a propriedade, cuidamos dos animais e ligamos para o proprietário para relatar. O proprietário me disse que a ligação era um conforto para o coração dele pois a mulher estava sendo sepultada naquele momento. Ela morreu, pois, foi resgatar a cadela da família, Bianca, ambas não conseguiram escapar e morreram abraçadas. Ele pediu para que eu entrasse em contato com o tenente dos bombeiros que sabia onde estava o corpo da cadela.
Respiramos fundo…. pois o coração estava apertado. Encontramos a cadelinha embaixo do abacateiro e fizemos um sepultamento da Bianca conforme solicitação dele… fiz uma plaquinha a mão mesmo como uma ultima homenagem… fiz o que estava ao meu alcance. De lá para cá nos tornamos amigos diante dessa avalanche de tristeza….
Quantos animais a equipe conseguiu resgatar? Mais profissionais habilitados seriam necessários?
Não tenho esse número pois foram muitos animais. No primeiro moimento tínhamos toda a equipe pronta, equipe capacitada e a campo. A equipe é dedicada e treinada, sabe dos riscos.
Com a situação de mais barragens podendo estar com problemas de segurança como a equipe está se organizando?
Temos uma equipe atuando em Barões dos Cocais, estive lá anteontem e vou voltar amanhã para o resgate dos porcos. Temos outras equipes em outras localizações… Nosso papel é organizar e direcionar para que os resgates sejam realizados com base no bem-estar animal para garantir tudo o que esses animais merecem.
E, como é o seu dia-a-dia de trabalho quando não está atuando em uma emergência?
Uma loucura, um dia nunca é igual ao outro. Atualmente sou vereadora na minha cidade, primeiro mandato, e sou coordenadora responsável técnica da ONG em Lafaiete. Uma ONG, que desde 1999, vem fazendo um trabalho muito bom, principalmente na castração dos animais. Em parceria com a prefeitura fazemos 20 cirurgias por dia. Fora os resgates…. pois agora estou indo buscar um cavalo que está na rua com a pata muito machucada. Os resgates são em primeiro lugar. Mas no dia-a-dia me divido entre as funções de vereadora e veterinária. Atendendo também os animais silvestres que a polícia ambiental nos traz! Hoje o conselho regional de medicina veterinária de Minas Gerais tem a brigada animais no qual a nossa equipe faz parte para atuarmos nas situações de emergência.
Lembrando que a Vale disponibilizou em sua página na internet os animais socorridos para que eles possam reencontrar seus donos ou serem adotados...