Essa semana vamos conhecer três pesquisas de iniciação científica que participaram do nosso programa de iniciação científico!
PERCEPÇÃO DOS TOMADORES DE DECISÕES DE SANTOS E GUARUJÁ SOBRE A BIODIVERSIDADE COSTEIRA E ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Aluna: Barbara Alice Ranzani
Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Adriano Christofoletti
Considerada como uma das regiões mais afetadas pelos efeitos da mudança climática, a zona costeira abriga uma grande biodiversidade e apresenta uma série de funções ecológicas importantes, como a prevenção de inundações, reciclagem de nutrientes, provisão de habitats e recursos para muitas espécies exploradas. Embora ainda seja um desafio abordar sobre os impactos da mudança do clima no gerenciamento de zonas costeiras, ajustar esse tema nas práticas de gestão é interessante para a mitigação dos impactos e adaptação às mudanças climáticas. Para isso, é importante que os tomadores de decisão tenham a percepção dos potenciais riscos e busquem, de maneira integrada e participativa, tomar decisões e formular políticas públicas adequadas. O projeto de pesquisa consistiu em uma abordagem interativa com tomadores de decisões dos municípios da Baixada Santista, Santos e Guarujá, em que buscou-se realizar entrevistas semi-estruturadas com os mesmos. Tem-se como objetivo conhecer a percepção ambiental dos membros do Conselho Gestor e direção da APAMLC; bem como dos tomadores de decisão da SEMAM de Santos e Guarujá sobre a biodiversidade de ambientes costeiros e adaptações às mudanças climáticas.
A entrevista realizada, previamente agendada, ocorreu na SEMAM Santos, localizado na Av. Ana Costa do município de Santos e participaram um total de 9 funcionários que lidam com tomadas de decisões para o município no dia a dia. Destes, 5 eram homens e 4 mulheres e todos residem no município de Santos. Os participantes possuíam idades entre 23 a 50 anos e todos indicaram ter
concluído o Ensino Superior. A coleta de informações consistiu em duas etapas, sendo a primeira uma entrevista, com duração de 2 a 5 minutos, na qual foi pedido para o entrevistado falar sobre o que acha das questões ambientais e da biodiversidade na região. As respostas tiveram como temas gerais a questão dos resíduos sólidos e coleta seletiva; saneamento; consumo excessivo de materiais; educação ambiental; incentivo à alimentação orgânica e agroecológica; política de arborização e qualidade de vida; e falta de pesquisas na região da Baixada Santista. Já a segunda parte, consistiu na aplicação de um questionário semi-estruturado, o qual tinha como objetivo avaliar a percepção ambiental e o conhecimento em relação à biodiversidade. Os resultados obtidos do questionário, de um modo geral, indicaram que 88% dos participantes se consideram informado ou muito bem informado em relação à perda da biodiversidade; os principais motivos apontados foram referentes à agricultura intensa, o desmatamento, a sobre-pesca, a Mudança Climática e os desastres causados pelos seres humanos (como o derrame de óleo, acidentes industriais, etc).
Mais da metade (66,6%) dos entrevistados acreditam que a diminuição ou extinção de espécies terão impactos em suas vidas e, inclusive, se sentem afetados por esta perda, declarando que gostariam de fazer mais esforço para proteger a biodiversidade. Ao mesmo tempo, todos acreditam que a importância de se deter esta perda, é devido aos motivos de o nosso bem-estar e qualidade de vida dependerem da natureza e da biodiversidade; de que a biodiversidade é essencial para enfrentar as Mudanças Climáticas e de que o Brasil irá empobrecer com a perda da biodiversidade. As medidas consideradas relevantes para proteger a biodiversidade, foram relacionadas a informar melhor os cidadãos sobre a importância da biodiversidade e promover pesquisas sobre impactos na perda da biodiversidade.
O estudo foi apresentado e divulgado no V Congresso Acadêmico“ Unifesp 25 anos: Universidade pública, conhecimento público”, realizado no período entre os dias 03 de junho de 2019 a 06 de junho de 2019. O Congresso foi realizado no Campus Baixada Santista da Unifesp, Edifício Central localizado na Rua Silva Jardim, n° 136 em Santos, SP. A divulgação foi realizada através da exposição de um pôster acadêmico e uma apresentação oral de 15 minutos à Equipe de Avaliadores e ao público geral. A exposição ocorreu no saguão principal do Edifício.
BIOENSAIOS DE TOXICIDADE CRÔNICA EM MICRO-ORGANISMOS MARINHOS (NITOCRA SP. E PERNA PERNA) E OS EFEITOS DAS FRAÇÕES SOLÚVEL E DISPERSA DE COMBUSTÍVEIS DE EMBARCAÇÃO NA COLUNA D’ÁGUA
Aluna: Debora Santana
Orientador: Prof. Dr. Denis Abessa
Compostos derivados de petróleo são formados principalmente por hidrocarbonetos e podem entrar no ambiente aquático através da ação antrópica por meio de acidentes, ou uso contínuo que causa o seu acúmulo em rios, estuários e ambientes marinhos. Uma vez no ambiente, o óleo pode sofrer diferentes processos de degradação, os quais causam perda de compostos monoaromáticos e aumento da toxicidade dos óleos intemperizados. Devido ao seu caráter hidrofóbico, esses compostos podem adsorver ao material particulado sendo ingeridos por organismos aquáticos. Porém, frações solúveis e dispersas de óleo podem conter de 0,5 a 30% dos compostos iniciais, concentrando hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA’s) e alifáticos de menor peso molecular, os quais podem causar a exposição da biota marinha, como copépodes, bivalves, equinodermos, levando a efeitos negativos em algum momento do seu ciclo de vida, como o desenvolvimento embrionário, reprodução ou mortalidade. As espécies usadas neste estudado foram a Artemia salina, Nitocra sp, e embriões de Perna perna. Estes organismos demonstram conexão lógica entre a qualidade ambiental e as variáveis de interesse sendo bons indicadores biológicos do efeito de poluentes. Diante do apresentado, no presente trabalho vêm sendo conduzidos ensaios de toxicidade utilizando as frações solúveis e dispersas de dois tipos de óleo combustível marítimo (diesel e bunker c). Assim, determinou-se o percentual de diluição limite destas frações que podem causar toxicidade à biota aquática. Os experimentos realizados seguiram os protocolos propostos em âmbito nacional e internacional, para as espécies utilizadas.
Artemia salina
Neste ensaio, a toxicidade é medida pela sobrevivência das larvas de Artemia salina, sendo realizados testes estatísticos para averiguar a LC50 (concentração letal a50% dos organismos) a espécie mostrou-se sensível a concentrações relativamente baixas das frações estudadas, sendo as LC50 calculadas de 7.13% (0.254-193.2 intervalo de confiança) para diesel solúvel e 14.04% (0.001-0.017) para bunker solúvel. Já as frações dispersas de diesel e bunker obtiveram LC50 de 0,004% (2.990- 55.94) e 63.5% (48.03-83.99), respectivamente. O organismo se mostrou mais sensível ao diesel, principalmente a sua fração dispersa. É possível que a consistência densa e viscosa do bunker c, tenha diminuindo a sua dispersão em comparação com o diesel, estando em concentrações mais baixas na solução aquosa e assim gerando menor impacto nos indivíduos.
Perna perna
Para o mexilhão Perna perna foi avaliado uma possível diminuição na taxa de fecundação dos óvulos após exposição prévia dos espermatozóides aos compostos. Apenas as duas concentrações mais altas das frações solúveis de ambos os óleos e de diesel disperso apresentaram toxicidade, diminuindo em 100% a taxa de fecundação.
Nitocra sp
Por fim, o teste com copépode harpaticóide Nitocra sp. foi usado para avaliar o impacto sobre a reprodução nestes organismos. Após 7 dias de exposição foram contabilizados os náuplios, copepoditos, fêmeas ovadas e não ovadas, logo em seguida foi determinada a fecundidade (Nauplios+copepoditos/fêmeas), realizada análise estatística ANOVA para confirmar se houve diferença com o controle e a concentração de inibição de fecundidade a 50% dos organismos (IC50). Nas soluções de diesel solúvel, foram encontradas apenas as fêmeas, sem ocorrência de prole, indicando ausência de desenvolvimento embrionário e consequentemente de sucesso reprodutivo. Já para bunker solúvel a fecundidade foi significativamente menor que no controle (p<0,05) a partir da concentração de 10%. No ensaio com diesel disperso houve toxicidade nas concentrações de 10 a 100%. Verificou-se redução nas fecundidades conforme o aumento das concentrações, indicando relação concentração-dependente. Os valores de IC50 foram de 8,85% em bunker solúvel e 4,17% em diesel disperso. Os resultados mostraram que estes óleos podem causar efeitos danosos na reprodução, indicando perigo às populações naturais.
Apresentações
II Simpósio de Ecotoxicologia e Ecofisiologia Animal da UFV 20-23.03.2019
CIC – XXXI Congresso de Iniciação Científica 26.09.2019
I Simpósio de biodiversidade de ambientes costeiros 07-09.10.2019d
REMOÇÃO DE NUTRIENTES DE UMA LAGOA SALOBRA DE EFLUENTES DE MARICULTURA POR SISTEMAS DE ALGAL TURF SCRUBBERS – ATS.
Aluna: Luana de Azevedo Aimi
Orientador: Prof. Dr. Leonardo Rörig
O aumento populacional nas zonas costeiras atrelado à baixa eficiência no tratamento de esgoto pode acarretar em um problema ambiental chamado eutrofização. O excesso de nutrientes despejado nos corpos d’água é a principal causa. Microrganismo ou macrorganismos encontram nesses locais um habitat propício para desenvolverem-se. A problemática ao redor disso vai além de problemas ambientais – a medida que isso acontece o ambiente vai tornando-se cada vez mais anóxico afetando todo a comunidade local – como também econômico por afetar radicalmente a paisagem e posteriormente o turismo. Sendo assim, a biorremediação, utilização de organismos para reduzir ou remover contaminações no ambiente, é uma solução promissora para remoção desses efluentes ricos em matéria orgânica. Atrelados aos sistemas de fitorremediação tornam o ambiente amigável, além de exigir tecnologia de baixo impacto, baixo consumo de petróleo e baixo consumo de insumos químicos, sendo enquadradas como tecnologias de Engenharia Ecológica.
Nesse cenário, o Algal Turf Scrubbers (ATS), desenvolvidos na década de 1980 por Walter Adey (ADEY, 1982), foi avaliado como uma tecnologia potencialmente rentável para remoção de nutrientes de efluentes municipais, de aquários, de resíduos líquidos de produtos lácteos e suinocultura e de águas superficiais. O sistema ATS consiste em uma comunidade de algas fixas que com o crescimento, vão depositando-se uma sobre as outras, assumindo um aspecto de “relva” crescendo em telas associadas a rampas inclinadas, através das quais a água de algum corpo hídrico ou efluente é bombeada. E como ocorre a biorremediação? A comunidade de algas depura a água pela absorção de compostos inorgânicos e liberação de oxigênio dissolvido através da fotossíntese. No final da rampa, a água é liberada de volta ao corpo d’água, com menor concentração de nutrientes e maior concentração de oxigênio dissolvido. Os nutrientes ficam armazenados na biomassa que pode ser utilizada posteriormente. Afim de testar a eficiência em escala piloto do sistema, o mesmo foi instalado nas dependências do Laboratório de Moluscos e Bivalves (LMBV), localizado na Barra da Lagoa, Florianópolis. A estrutura conta com um sistema de duas rampas de 4 m. Para cada um dos leitos está acoplada uma caixa d’água de 100 L e uma bomba d’água periférica com encanamento para funcionar em sistema aberto (água bombeada da lagoa, à rampa e posteriormente à lagoa) ou fechado (reservatório para estoque de água coletada da lagoa, e as bombas são
utilizadas para recirculação da água nas rampas. Nessa a água fica contida e permite a avaliação temporal de remoção de nutrientes) e de forma independente. Os primeiros experimentos ocorreram nos dias 23, 28 de Novembro e 06 de Dezembro. Durante 24 horas o sistema foi fechado e foram recolhidas amostras da água que circulava no sistema no ato do fechamento, 1 hora depois, 3, 7 e 24 horas. Essas amostras foram congeladas para que fossem analisadas algumas semanas depois. Além disso, as rampas estavam com dois diferentes substratos, nylon e PVC afim de testar a eficiência de ambos. Tempos depois essas amostras foram analisadas por espectrofotometria para quantificação de nutrientes no laboratório de química da Universidade do Vale do Itajaí. Foram feitos reagentes e curvas padrões para leitura de nitrito, nitrato, amônia e fosfato. Após a pesagem de material seco e úmido foi possível constatar que a malha de nylon obteve maior sucesso que a de PVC devido ao seu maior peso. Ao observarmos a absorção dos nutrientes, no geral dos 3 experimentos, ambas seguiram os mesmos padrões. Nitrito e nitrato não foram consideráveis desde a primeira hora amostral. A absorção de fosfato foi a mais perceptível devido à sua elevada concentração (mg/L) inicial e decaimento acentuado com o passar das horas. Comportamento similar teve a amônia, porém com muitas ocilações entre absorvido e liberado. Porém, ao final, a diferença era sempre positiva. Devido aos resultados promissores, a fim de continuar estudando esse sistema testando limites de tolerância, relação quantidade de biomassa com absorção, novos efluentes atualmente o trabalho continua, contudo numa menor escala. São 12 rampas com menos de um metro com substrato de nylon localizadas no Laboratório de Ficologia da Universidade Federal de Santa Catarina, onde já foi realizado teste de absorção de nutrientes, os resultados foram da mesma maneira positivos, o próximo já está programado assim como quantificação de biomassa com objetivo de sabermos se é necessário uma “relva” algal ou se com um tapete não muito desenvolvido há também uma grande absorção do que está presente no efluente. Por fim, nesse um ano de bolsa e dois anos e meio de laboratório chego a breve conclusão de que o encanto do mundo científico está nas diversas perguntas a serem respondidas e principalmente, nas diversas perguntas a serem feitas.
Quanto a divulgação, essa foi feita na XX Semana Acadêmica da Biologia, a qual tinha como tema fronteiras da ciência. Recebeu premiação entre os melhores colocados na categoria apresentação, sendo o único trabalho a levar biorremediação como tema central. O pedido para apresentar no congresso de limnologia foi recusado, sem resposta ao pedido de revisão. A justificativa foi não ter tido na época todos os resultados. Objetivo é levá-lo também ao “Rede Algas” que ocorrerá em Novembro, em Arraial do Cabo.