Essa semana vamos conhecer duas pesquisas de iniciação científica que participaram do nosso programa de iniciação científico!
VARIAÇÃO NA DIETA DE MACHOS E FÊMEAS DE TONINHA, Pontoporia blainvillei (GERVAIS & D’ORBIGNY, 1844) (CETARTIODACTYLA, PONTOPORIIDAE) NO LITORAL NORTE DE SANTA CATARINA
Aluna: Daniele Laibida Rodrigues Lopes
Orientadora: Profa. Dra. Marta Cremer
Este estudo fornece informações referentes à dieta da toninha, Pontoporia blainvillei, uma das menores espécies entre os golfinhos e a mais ameaçada do Atlântico Sul Ocidental, devido aos impactos antrópicos, principalmente por meio da captura acidental em redes de pesca. Sua alimentação pode sofrer variações relacionadas às características biológicas, como gênero, faixa etária e tamanho do indivíduo, e refletem a maneira como os estes utilizam seu habitat, tendo consequências à conservação e ao manejo. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a ocorrência de variações na dieta de machos e fêmeas de toninha.
A área de estudo abrange o litoral norte do Estado de Santa Catarina, entre os municípios de Itapoá (25°5834,8″S/48°35’46,1″O) e a foz do Rio Itapocú (26°34’49,8″S/48°39’50,5″O), em Araquari, além do espaço interno do complexo estuarino da Baía Babitonga (26°02′ — 26°28’S e 48°28′ — 48°50’W). Os animais foram coletados pelo Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) e levados à unidade de estabilização localizada na Univille, em São Francisco do Sul, SC.
Para a identificação dos teleósteos foram utilizados otólitos sagitta e para os bicos de cefalópodes, a presença de estruturas córneas superiores e/ou inferiores. Foi analisado o conteúdo estomacal de 40 indivíduos (18 fêmeas e 22 machos) no período de outubro de 2015 a outubro de 2018. Destes, 10 apresentaram o trato vazio (6 machos e 4 fêmeas). Foram encontradas 20 espécies de teleósteos pertencentes a seis famílias, sendo que as mais importantes foram Sciaenidae e Engraulidae. A dieta dos machos foi composta por 11 espécies de teleósteos, sendo os mais relevantes: Stellifer rastrifer (IIR=39,64%), Pellona harroweri (IIR=24,71%) e Isopisthus parvipinnis (IIR=19,02%). Cynoscion leiarchus, esteve presente apenas no conteúdo dos machos, enquanto as fêmeas consumiram sete espécies de teleósteos que não foram encontrados na dieta dos machos: Engraulis anchoita, Cynoscion jamaicensis, Menticirrhus americanos, Cynoscion guatucupa, Ulaema lefroyi, Micropogonias furnieri e Conodon nobilis. É notável a presença de maior riqueza específica de teleósteos na dieta das fêmeas. A frequência de ocorrência (FO%) de teleósteos foi de 100% nos estômagos analisados e os cefalópodes representaram 42,9% em fêmeas e 43,75% em machos. No caso dos cefalópodes, como segundo item mais consumido, sete machos apontaram a presença dos bicos córneos, porém em menor número, enquanto as fêmeas tiveram maior quantidade do molusco em seis exemplares. Foram identificadas duas espécies, Dorytheutis sanpaulensis e D. plei, ambas da mesma família (Lolliginidae), que compunham a dieta de ambos os sexos, representados nos machos com valores de IIR=3,47% e IIR= 0,080% respectivamente, enquanto as fêmeas obtiveram IIR= 10,83% e IIR= 0,19% para os cefalópodes identificados.
As estações do ano, foram agrupadas em Primavera/Verão e Outono/Inverno, e não apresentaram variabilidade significativa de itens na dieta de machos e fêmeas, embora a frequência de ocorrência acompanhe o aumento do número de indivíduos no Outono/Inverno para ambos os sexos: 14machos e 13 fêmeas, enquanto Primavera/Verão apresentou 8 machos e 5 fêmeas.
Para aferir melhor os resultados, foi realizado o Teste Qui-quadrado (X2) para os indivíduos analisados, que indicou que não houve diferença significativa (P>0,05) na dieta de machos e fêmeas quando confrontado os itens alimentares como teleósteos e cefalópodes. Outros estudos, como no litoral paulista também não foram observadas diferenças acentuadas na dieta de machos e fêmeas de toninhas (SILVA, 2011). Porém, de modo geral, teleósteos predominaram na dieta das toninhas analisadas, independentemente do sexo, seguidos por cefalópodes, corroborando com outras pesquisas ao longo de sua distribuição (PINEDO, 1982; BASSOI, 1997; DI BENEDITTO, 2000; OLIVEIRA, 2003; SILVA, 2011; PASO-VIOLA et al., 2014).
Na busca pelo recurso alimentar, fatores como a sazonalidade, o sexo e a idade do predador podem influenciar o comportamento de forrageio individual. Informações sobre a dieta também fortalecem o entendimento quanto aos padrões de uso de habitat, que estão relacionados às áreas de ocorrência das presas, assim como o papel destas, como espécies-chave dentro de estruturas acondicionadas à disponibilidade de recurso nos demais níveis tróficos. A compreensão desta dinâmica contribui para conhecer melhor o papel das toninhas nas cadeias tróficas marinho-costeiras, bem como a sua interação com a atividade pesqueira, gerando subsídios à sua conservação.
O Trabalho foi apresentado na Semana do Biólogo, em São Francisco do Sul, SC, no dia 02/09/2019.
DESCRIÇÃO ANATÔMICA PÓS-CRÂNIANA DE JACARÉ-DO-PAPO-AMARELO, Caiman latirostris (Daudin, 1802) (CROCODYLIA: CAIMANINAE), PROVENIENTE DO CRIADOURO CONSERVACIONISTA 2C EM CACHOEIRO DO ITAPEMIRIM-ES
Aluna: Phillipe Melquíades d’Angelo Corrêa
Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Figueiredo
A espécie Caiman latirostris é popularmente conhecida como jacaré-de-papo-amarelo e possui ampla distribuição geográfica no continente sul-americano, sendo encontrada no Brasil, Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai. A maior área de abrangência está no Brasil, principalmente no bioma de Mata Atlântica, que atualmente está criticamente reduzido e seriamente ameaçado pela ação antrópica, restando poucos fragmentos que, assim, colocam em risco a espécie. Há também grande escassez de dados sobre a anatomia básica dos espécimes. Esses dados são fundamentais para um maior conhecimento sobre a história evolutiva dos jacarés-de-papo-amarelo e utilização em análises sobre a ocorrência de assimetrias flutuantes, patologias e outras variações morfológicas que podem ter causa em estresses ambientais. Nessa perspectiva, o objetivo deste trabalho foi descrever anatomicamente os ossos do pós-crânio. O conjunto cervical é composto por 8 elementos, com o atlas e o axis correspondendo à primeira e segunda vértebras. O atlas é composto por 4 ossos, que unidos articularão com basioccipital do crânio e permitirá a articulação do crânio ao pós-crânio. O axis possui o processo espinhoso completamente diferenciado das demais vértebras, sendo o mais alongado no eixo caudal-crânial. Da terceira até a oitava (e última) cervical as vértebras apresentam variação de comprimento, altura e tamanho dos seus processos. A diapófise da cervical 3 é formada pelo arco neural e corpo vertebral concomitantemente e aumentam a partir do axis até a oitava cervical.
As vértebras dorsais são formadas por 13 ossos. A dorsal 1 se assemelha bastante com a última vértebra cervical, tanto em altura quanto em largura e de forma geral com o tamanho de seus processos. Nas vértebras sofrem redução em altura até a última caudal. Da dorsal 1 até a dorsal 5 ocorre a
regressão da hipapófise até o completo desaparecimento da mesma. Na vértebra dorsal 3, a parapófise é formada tanto pelo corpo vertebral como pelo arco neural se assemelhando às primeiras cervicais. Da dorsal 4 até as pré-sacrais percebe-se uma retomada do formato laminar do espinho neural, como nas primeira cervicais. A linha de sincondrose entre o corpo vertebral e o arco neural fica muito evidente a partir da décima dorsal, comprovando o sentido de fusionamento caudal-cranial das vértebras.
Participação no IV Simpósio Capixaba de Ciências Biológicas, com o trabalho intitulado “Descrição Anatômica das Vértebras Cervicais de Caiman latirostris.”